quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A face do Pai

Num dia de dor e de trevas, fui pelos caminhos vagando a procura de algo que nem se quer sabia o que era... A vida me deixava impotente, me sentia tão perdido pelo simples fato de ter a certeza de que não estava no controle de tudo, de que mais do que não ter controle sobre as coisas, eu não tinha certeza sobre minha própria vida...

Foi me deparando com um moribundo, que tinha devaneios, que bati de frente com essa realidade, ele via pessoas, ouvia vozes e sabia que iria morrer... Como de fato todos já sabiam, seus dias estavam contados na face da Terra... E... E diante dessa realidade eu tremi, em meu corpo senti um arrepio e eu, que me achava dono do meu nariz, senhor da minha vida, me vi incapaz de compreender e conceituar, racionalmente, o mistério da vida...

Nesse instante tive fé, acreditei mesmo sabendo que ali, daquele velho corpo cansado, a vida já começava a fugir a cada palavra. Ali eu vi a vida, e em meu coração eu acreditei que aquilo não era o fim.
Mas, se não era o fim, o que era então?

Pronto, meu senso racional se aguça, desperta desse breve devaneio de fé. O mundo “cor de rosas” murchou e eu voltei a minha fria análise. Fui em busca de respostas, entrei em muitas casas, entrei em muitos lugares e conversei com muitas pessoas, que me davam respostas aceitáveis do ponto de vistas “racional”... Me senti bem, conseguia entender o que me era dito, conseguia vislumbrar com certeza o que um simples senhor, que depois eu soube que fora um mecânico a sua vida toda, me dizia sobre as leis do Insondável sobre as leis de Deus...Mas algo faltava...

Bom, fui ao enterro. E lá me deparei com aquele corpo, frio e sem vida. As explicações me tinham convencido daquela vez, mas porque ainda é difícil aceitar?
Ele me disse que eu não pensasse na pessoa para que ela pudesse partir em paz para sua “nova missão”, mas era inevitável, afinal eu o conhecia, pois vivia em nosso meio, com ele aprendi tanto!
Agora me parece tão injusta e tão cruel essa realidade que aquele simpático senhor me apresentou... Me bateu a angústia, me perturbei, queria chorar mas ele me disse que não era bom também, porque o “espírito” iria sentir e ficar preso por aqui...

Sai dali, só queria um pouco de paz, só queria um pouco de consolo para encarar essa dura e inevitável realidade que segue todos os viventes. Havia uma igreja na porta do cemitério, entrei, meio sem jeito, afinal era uma igreja católica, não me sentia bem em lugares assim ainda mais por tudo que a igreja fez de mau! Bom, não me importava naquela hora, só queria um lugar sossegado para chorar, sentei num banco e abaixei minha cabeça. Derrepente senti um toque quente no ombro, era um homem alto que vestia preto! Logo preto! Me disseram naquele lugar onde o mecânico atendia e fazia caridade, que preto não é uma boa cor porque atrai os mortos e a pessoa fica carregada!

Olhei de cima a baixo, e ele me perguntou:

- Tudo bem meu irmão?

Pensei:

- “Eu não sou seu irmão, seu maluco carregado de energia negativa!”

Mas disse a ele:

- Estou sim, só vim rezar (chorar) um pouco...

Ele perguntou e disse:

- Perdeu algum ente querido? É sempre bom orar por eles, nossas orações nos elevam a Deus e nos faz pedir para que o Senhor receba aqueles que nós amamos junto dele e assim tenham a paz eterna que Jesus prometeu!

Olhei pra ele com uma cara de : “hãm?!”

Ele percebeu e sorriu:

- Sim, Jesus disse que todos os filhos de Deus voltam a casa do Pai quando partem dessa vida. Quando ali chegam se tornam os santos, alguns são conhecidos outros não, como tantos que devem ter seus corpos enterrados nesse cemitério, mas intercedem por nós, ou seja oram a Deus por nós!


Nossa! Fiquei pasmo, sem palavras diante daquilo...E antes que eu dissesse qualquer coisa o homem sorriu e perguntou se eu queria orar com ele por alguém, fiz com a cabeça que sim e rezamos um “Pai nosso” e uma “Ave Maria”, depois da oração chorei, copiosamente chorei como que um peso tivesse sido tirado da minha alma, senti um calor no peito e então o homem sorriu de novo, vi naquele olhar um olhar diferente, perguntei se ele era o zelador do lugar e ele me disse que era o padre, esbugalhei os olhos e ele sorriu um pouco mais, me abraçou e me disse:

“ Vá em paz, você não precisa saber como é o outro lado da vida para viver bem neste lado, o que você precisa é viver bem deste lado para alcançar a boa vida do lado de lá! Se tiver fé creia!”

Com essas palavras ele se retirou por uma porta, quando vi já não estava mais lá!

E em uma parede estava escrito sobre uma imagem de Cristo:


“ Ter fé é crer naquilo que não se pode ver com os olhos, mas como coração!”